Preconceito afasta homossexuais da escola
Quando o assunto é homossexualidade parece que o preconceito do brasileiro começa já na escola. É o que comprovam os dados de uma pesquisa realizada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2004, com estudantes de 13 capitais do país e do Distrito Federal. 25% dos alunos pesquisados afirmaram que não gostariam de ter um colega de classe homossexual. E foram acompanhados por 20% dos pais, que disseram que não gostariam que os filhos estudassem com colegas homossexuais. Teresina não integrou a pesquisa da UNESCO, mas os dados parecem se confirmar por aqui também. Pelo menos é isto o que demonstra a história de Carmem Lúcia Ribeiro, hoje com 24 anos e trabalhando como agente de proteção social, ela ainda não conseguiu esquecer o período turbulento da escola. Com apenas 16 anos, além de enfrentar as dificuldades naturais da adolescência, Carmem teve que conviver com o preconceito de quase todas as colegas de turma, que a isolavam apenas pelo fato de ser lésbica. “Como eu era meio estereotipada, as pessoas da turma começaram a me perseguir. Quando eu chegava à escola, minha carteira estava riscada com o nome de ‘sapatão’. As pessoas também colocavam estas mensagens nos banheiros”, relembra. A perseguição chegou ao ponto de que todas as meninas da sala pararam de falar com a estudante. Para enfrentar a sensação de isolamento e a tristeza, Carmem mergulhou nos estudos. “Eu me sentia muito mal, então resolvi me dedicar bastante aos estudos, pois eu imaginava que se ninguém queria falar comigo eu precisava, pelo menos, me destacar em alguma coisa”, conta. A estratégia deu certo, depois de um ano de perseguição, ela mudou de turma na escola e acabou encontrando um ambiente livre de hostilidades. “Acabei conquistando bons amigos e, no fim das contas, consegui concluir meus estudos”, diz. Mas nem todas as histórias têm finais felizes como o de Carmem. Estudos demonstram que a evasão escolar é grande entre os homossexuais. As travestis são as que costumam sofrer maior preconceito. Estudo realizado no Rio de Janeiro, em 2003, demonstrou que 90% das travestis pesquisadas que abandonaram os estudos, o fizeram por causa da discriminação. Professores não sabem lidar com discriminação em sala de aulaO professor Herbert Medeiros, que atua na rede estadual de ensino do Piauí, conta que os casos de preconceito como os sofridos por Carmem são comuns nas escolas locais. “A gente percebe o preconceito de um modo geral. E na escola isto não é diferente. Geralmente, este preconceito é direcionado para aquele aluno que tem um padrão de comportamento diferente do que se convencionou chamar de normal”, explica. Segundo Herbert, mesmo quando este preconceito assume uma face mais agressiva, muitos professores optam por não interferir, o que prejudica os alunos vítimas de perseguição. “Existem certos tabus dentro das escolas. Alguns temas mais espinhosos que os professores não abordam e isto pode levar aquele aluno vítima a, inclusive, desistir dos estudos”, destaca. Certas vezes, além de não saber lidar com a questão, o preconceito está no próprio professor. “A escola é um lugar de formadores de opinião, mas, muitas vezes, na minha sala de aula o próprio professor fazia alguma piada maldosa sobre homossexuais e acabava atiçando o restante dos adolescentes”, denuncia Carmem.Durante todo o ano de 2008, o professor Herbert Medeiros participou do projeto Direitos Humanos: Tô dentro, executado em escolas públicas de Teresina pelo Matizes, grupo que atua na defesa dos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais do Piauí. Durante o trabalho, foram realizadas oficinas com estudantes que abordaram questões de discriminação e preconceito dentro de algumas escolas de Teresina. A ação permitiu identificar muitos casos de preconceito não só contra homossexuais, mas contra todos os estudantes que fugiam de um determinado padrão. “Foram muitos os enfoques. Mas ficou destacada esta questão da violência diante da diferença. Muitas vezes não é uma violência física, mas uma violência emocional, que o professor deve estar preparado para identificar e lidar com a questão. Mas, na maioria das vezes, isto não acontece”, alerta Herbert. Apesar das dificuldades, exemplos como o de Carmem Lúcia demonstram que mesmo diante dos problemas e do preconceito enfrentado na sala de aula, os alunos homossexuais não devem desistir dos estudos. “A evasão escolar não resolve nada. Está sendo vítima de preconceito? Respire fundo e siga em frente. Procure novos amigos, novas experiências e nunca deixe de estudar. Você vai ficar mais fortalecido com tudo isso”, acredita a jovem.
Autor/Fonte: Clarissa Poty / Jornal O Dia Edição: Arlinda Monteiro
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
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